sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Fata Morgana (Jeroen Kooijmans, 2006)


Em Fata Morgana, um único plano recorta a paisagem de um lago cercado de relva e junco. A luz do sol reflete na água e denuncia o movimento na superfície do lago. O mesmo ocorre com a relva, que se agita com a ação do vento. Em algum momento durante esses dois minutos de filme, a paisagem iluminada cede lugar a uma escuridão repentina e o sol passa a brilhar de forma diferente. Eis que a escuridão vai embora tão depressa quanto chegou, e tudo volta ao normal. Ou não. Apesar da conotação fantástica e sobrenatural que quer dar à luz, Fata morgana faz lembrar as vistas dos irmãos Lumière. Um retorno ao olhar deslumbrado com as possibilidades da câmera, enquanto aparelho capaz de capturar o mundo.

Em uma busca que o aproxima não apenas aos inventores do cinema, como aos pintores impressionistas, o diretor Jeroen Kooijmans realiza mais um estudo sobre o comportamento da luz e sua influência sobre as coisas visíveis. De que forma a mudança de luz modifica a paisagem? A abertura do plano possibilita que o olhar do espectador percorra livremente a superfície do quadro, buscando o seu objeto de interesse sem qualquer influência externa. Um exercício de atenção voluntária. Resgate das imagens realizadas quando da invenção do cinema, resgate de uma noção do que a câmera é capaz de capturar quando posta diante da natureza, diante do mundo.

Dois minutos depois, o filme termina e não há créditos. Sequer sabemos se se trata mesmo de um filme ou de um erro de projeção. Fatalmente esquecível no meio de tantos outros, por isso a minha vontade de recordá-lo. Uma câmera diante de uma paisagem, capturando os movimentos da natureza. E só.
(Alice Furtado)
Fata morgana está na competição internacional 6.

2 comentários:

  1. Soa como o início do 'Silenciosa Luz', do Reygadas. Há alguma relação na imagem dos dois?

    ResponderExcluir
  2. certamente, o filme lembra muito o início (e o fim!) de silenciosa luz.

    ResponderExcluir