domingo, 28 de outubro de 2007

Apenas dois garotos (Sérgio Bloch,2007)

São bem claras as relações de Apenas dois garotos com a teledramaturgia brasileira. Vemos os mesmos cenários, os mesmos arquétipos – uma mulher de meia-idade metonimizando a classe-média carioca, uma empregada negra e atrevida representando a classe popular – bem como uma já conhecida maneira de se decupar (um plano geral introdutório para então passar aos planos próximos, campo x contra-campo ad eternum). Há também a mesma crença simplista na dicotomia favela x zona-sul, pobre x rico, patrão x empregada, diferenças sociais intermediando as relações entre os indivíduos.

Se Apenas dois garotos talvez não encontrasse lugar na grade de programação da televisão aberta por seu final omisso, não deixa de haver, ao longo do filme, uma imensa necessidade de deixar as coisas bem claras. Qualquer cuidado com as imagens passa a ter pouca importância diante do objetivo, obsessivamente perseguido pela decupagem, de não deixar espaço para dúvidas. Dessa forma, se o diretor quer mostrar a história através dos olhos de duas mulheres, é preciso haver um plano em que uma delas assiste da janela ao diálogo entre o seu filho e o filho da patroa.

Ainda sobre a relação com a teledramaturgia, há momentos em que realmente me questiono se certas imagens não foram de fato extraídas de alguma novela. É o caso do plano geral da praia de Copacabana à noite, utilizado para marcar a passagem do tempo. A única diferença é que aqui, ao menos, o diretor Sergio Bloch tem a dignidade de não colocar a imagem em fast foward.

(Alice Furtado)

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