No filme sobre o arquiteto José Zanine, o caminho seguido é semelhante ao traçado nos outros curtas. Mais uma vez, o artista “documentado” narra, em off, um texto de sua autoria, enquanto assistimos a imagens das obras e do seu cotidiano de trabalho. Este curta, entretanto, sintetiza e explora de forma magistral uma série de elementos utilizados nos outros filmes. Aqui, percebemos como o interesse do diretor pelas formas está intimamente ligado à dimensão humana envolvida tanto na elaboração das obras quanto na relação que estas passam a ter com a vida – de seus autores e de quem quer que possa vir a experimentá-las.
Zanine afirma, e Fontoura sublinha com imagens: "homens e ferramentas constroem as casas". Formas, contrastes e degradés, gerados por sombras que se projetam nas paredes e pisos em construção, depuram-se em linhas, traços, grafismos. Mas a paisagem também é fundamental, tanto na obra de Zanine quanto na leitura que dela é capaz de fazer o cineasta. O mar e os morros que cercam uma casa na Joatinga, no Rio de Janeiro, penetram o espaço construído e são reenquadrados pela lente de Fontoura através dos vãos de janelas e batentes de portas de Zanine. Em um plano belíssimo, a laje da casa se sobrepõe à montanha ao fundo, e um dos operários sobe o piso íngreme rapidamente, como se fosse saltar para o morro. A casa se integra ao ambiente e a imagem captada pontua e evidencia o olhar do arquiteto.
Como o título do filme indica, a obra é feita para ser vivida. Aos poucos, os interiores vazios das casas são ocupados por sofás, almofadas, redes de dormir. A presença humana se insinua, preenche os espaços com sua pessoalidade e, porque não, com seu afeto – alguém escolheu uma almofada amarela, vai balançar-se na rede vendo a vista; vai acordar, trabalhar, dormir entre as paredes projetadas. Para Zanine, assim como para Fontoura, a arte é feita para morar.
Rita Toledo
não acho uma boa esse lance de casa enfiada na mata.
ResponderExcluircontinue morando no seu apartamento
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