Metro e meio, por enquanto narra momentos da vida de Victor, um garoto às voltas com o início da puberdade que, como seu amigo Carlos, precisa desenvolver meios de interagir com as mulheres. Não diferente dos outros jovens do bairro pobre de Nova York onde vive, Victor passa boa parte de seu tempo perambulando pelas ruas. Acontece que dentro desse microcosmo do qual faz parte, não existem muitas regras de convivência social. Assim, se Carlos fica com meninas que têm o dobro de seu tamanho, um rapazinho ainda menor circula entre os grandes, sempre à procura de alguém para brincar, mas volta e meia flagrando cenas de interação entre pessoas de sexo oposto, para ele, ainda pouco compreensíveis.
É com extrema crueza que se filma esses fragmentos do cotidiano desses jovens. Não há preciosismo estético na fotografia, tampouco na direção de arte, pois na mise-en-scène de Peter Sollet nada deve chamar mais atenção que seus personagens e aquilo que se passa a eles. A mesma crueza se dá na escolha do elenco - os atores de Metro e meio, por enquanto não são extraordinariamente bonitos, como na maioria dos filmes adolescentes. Ao contrário, são desproporcionais (uns com os outros e mesmo no próprio corpo) e claramente afetados pela violenta turbulência hormonal que marca esse processo de transformação.
O mais impressionante em Five feet high and rising (no original), contudo, é a forma como a câmera vaga errante e sem amarras pelo universo de seu protagonista. Isso porque, se há a definição de Victor como personagem principal e de sua história como central, nada impede o filme de realizar suas digressões narrativas. Falo da extrema importância que se dá à história de Donna e Aaron (a menina que é constantemente rejeitada pelo namorado) que mal se cruza com a história de Victor, falo também da longa e belíssima seqüência em que Victor, junto com um personagem que não conhecemos (e sequer conheceremos), ensaia algumas batidas em um tambor enquanto espera que Amanda, a garota que gosta, apareça à porta de casa.
É precisamente essa liberdade narrativa, essa permissividade e abertura às digressões, ao que não é meramente funcional, que faz de Five feet high and rising um grande filme. Um relato quase documental (e a câmera na mão não é um recurso à toa) desse bonito (e constantemente mal filmado pelo cinema) rito de passagem da infância à adolescência.
Metro e meio, por enquanto passa no programa 1 da restrospectiva 10 anos de Cinéfondation.
(Alice Furtado)
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