Equilibrando-se a todo o momento entre o registro tosco feito pelo que parece ser uma câmera caseira e a delicadeza das imagens registradas (os tons pastéis, a proximidade entre a câmera e seus personagens, a preocupação com a luz que atinge o quadro), Aïnouz inicia seu filme contando em inglês (embora esteja bem claro que ele não se dirige apenas a estrangeiros) diversas curiosidades sobre o Brasil, uma terra de machos, como diz o próprio através da narração de Fernando Alves Pinto. Após um breve prólogo, no qual o diretor traduz diretamente para o inglês palavras como “macho”, “viado” e “puta”, explicando ironicamente os seus significados, o filme vai ao encontro de suas personagens - as cinco tias-avós do diretor - apresentando-as com breves descrições de suas personalidades. A partir daí, as cinco senhoras, filmadas sempre em primeiro plano, contam histórias de suas vidas e discutem os mais variados assuntos, discursando sobre suas relações com o amor, a família, o casamento, o sexo.
Difícil desconstruir o amálgama de questões suscitadas por Seams, isolá-las uma a uma e organizá-las racionalmente para se chegar ao ponto de descobrir sobre o que, de fato, quer falar este belo filme de Karim Aïnouz. Isso porque a resposta não reside realmente no âmbito da organização, e sim na amálgama em si, nessa indiscernibilidade das questões. Seams é, ao mesmo tempo, um filme sobre o machismo e sobre a sua influência na vida de seus personagens (incluindo o próprio Aïnouz); sobre o olhar de um brasileiro que vive no exterior; sobre o amor e sobre o estar com o outro; passando pela discussão sobre a indistinção entre o real e a representação. Enfim, um filme sobre a vida, que, como ela, segue seu curso livremente, à revelia de qualquer impulso ordenatório.
Seams está na mostra Primeiros Quadros.
(Alice Furtado)
O filme é incrível.
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