A regra de comportamento social em festivais, criada não sei por quem, diz que você só aplaude um filme se gostar dele. Cinema é uma coisa subjetiva, o que dá gosto a uma pessoa pode desgostar outra. Então, imagine quão descabido deve ser um filme que não ganha o aplauso de ninguém. Na sessão Curta Petrobrás exibida ontem no Odeon isso aconteceu mais de uma vez e com razão. A impressão de que os realizadores querem quebrar com a estética e a narrativa clássicas pelo simples motivo de ser diferente, no entanto, não se restringe aos curtas exibidos na sessão, mas ao grosso da produção brasileira.
Os dogmas existem para serem quebrados e os paradigmas para serem superados. As imposições clássico-narrativas devem ser revistas – e já foram exaustivamente pela nouvelle vague e as vanguardas subseqüentes – mas isso quando se tem um propósito. Insistir nessa idéia sem que haja por trás dela uma propota que o diretor compreenda e domine bem resulta em filmes irrelevantes. O curta-metragem, muito mais que o longa, abre a possibilidade de experimentação. Mas, num país como o nosso, onde fazer cinema é uma empreitada tão difícil, pensei durante aquela sessão que os recursos da Petrobrás poderiam ter tomado outro rumo.
“Antônio Pode”, de Ivan Morales Jr., é tão vazio quanto a própria sinopse: “Um homem olha pra frente, sereno”. E nada mais que isso. O rótulo de "experimental" não serve como desculpa. “A Última Viagem de Arkadin D’Y Saint Amér” (Sergio Zeigler e Cassilda Teixeira da Costa) e “Radicais Livres” (Marcus Bastos), ambos documentários, empregam estéticas que em nada contribuem para a dramaticidade. Ao contrário, muitas vezes prejudicam a narrativa. “Fluxos”, de Juliana Penna, é um filme correto, mas os seis minutos em stop motion não empolgam, sobretudo se você já viu um filme de Chris Marker.
Dois documentários simples e metalingüísticos foram as boas surpresas. “Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba”, de Thomas Farkaz e Ricardo Dias, intercala imagens dos músicos filmadas por Farkas no Parque do Ibirapuera em 1954 com o seu depoimento sobre a experiência e a recuperação do material. Aquela primeira filmagem gerou esse novo curta, nostálgico e agradável. “Cine Zé Sozinho”, de Adriano Lima, gira em torno de um homem humilde no interior do nordeste, premissa das mais batidas em documentários brasileiros. Zé Sozinho, sujeito simples, mas apaixonado por cinema, dedicou a vida a exibir filmes em cidadezinhas do nordeste, encantando platéias que, sem ele, jamais teriam contato com aquela arte. Sem querer inovar ou romper com nada, usando a estrutura mais clássica de uma não-ficção para contar uma história de vida que lhe encantou, o diretor realiza um filme sensível e envolvente. E emociona como nenhum dos curtas “modernosos” foi capaz de fazer.
(Isabella Goulart)
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