terça-feira, 30 de outubro de 2007

"A Queda da Casa de Usher", de Jan Švankmajer


Em 1928, o conto “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, rendeu um dos melhores filmes da avant-garde francesa com o comando de Jean Epstein e assistência de direção de Luis Buñuel. Em 1980, o tcheco Jan Švankmajer realizou um curta-metragem não menos apegado à vanguarda a partir do mesmo conto. Lorde Roderick Usher é um marido devoto, preocupado com a saúde da esposa que definha a cada dia. Quando ela morre, ele se torna cada vez mais insano, pois acredita que ela foi enterrada viva. Episódios incomuns e misteriosos passam a acontecer na assustadora casa de Usher. A história é contada pelo ponto de vista de um amigo de Usher, que vai à mansão após receber uma carta onde o marido fala de seu desespero diante da saúde da mulher. Vista sob a perspectiva de uma terceira pessoa, que se espanta com tudo o que acontece, a trama nos parece ainda mais assustadora.


O macabro no filme de Epstein se contruía pela experimentação visual: sobreposições, trabalho com a luz e com o foco, enquadramento de elementos inanimados no espaço. Mas eram também de grande importância a expressão anormal dos atores e a música. Švankmajer não usa atores e leva a experimentação plástica ao extremo. Com a substituição do humano por objetos mortos e imagens irracionais, ele quis provocar um envolvimento absoluto dos sentidos durante o filme. Surrealista a um nível quase purista, ele sai vitorioso. Mas a necessidade de mexer com os nossos sentidos não está limitada a esse curta-metragem, sendo recorrente em outras de suas obras: tato, olfato, paladar e, claro, visão são aguçados pelo diretor na tela em duas dimensões.



Švankmajer é autor de um cinema assombroso. I
ncômodo e bonito ao mesmo tempo, sua obra nos deixa extasiados pela própria capacidade de criar uma imagem. “A Queda da Casa de Usher”, colocada em termos rasos, é uma mistura de animação em stop motion, enquadramento de objetos inanimados e narração em terceira pessoa. Vista de forma mais ampla, é o opsoto do convencional numa narrativa e um episódio sinestésico. Švankmajer atingiu resultados únicos. O sobrenatural do conto de Poe está aqui e não precisa de imagens lógicas ou racionais. Existe melhor sem elas, quem sabe. Como Epstein, Švankmajer realiza um filme fantástico (no sentido mesmo de fantasia, do absurdo), intenso e ainda mais cheios de experiências físicas a nos oferecer. Se os cineastas contemporâneos que priorizam a forma tanto quanto o conteúdo (ou mais) bebem, obrigatoriamente, nas vanguardas dos anos 1910 e 20, podem ter se influenciado também pela capacidade de experimentar de Jan Švankmajer.

(Isabella Goulart)



"A Queda da Casa de Usher" está na retrospectiva Jan Švankmajer 2, que voltará a ser exibida no domingo 4, às 17:30, no Odeon.

2 comentários:

  1. preciso fazer um video (caseiro)para um trabalho do colegio na disciplina de ingles.Sera q consigo encontrar este filme para assistir?em algum site ou lugar??eu nao sabia q era feito em stop motion!e fo justamente esta a tecnica q pensei em utilizar,so nao sei se dara certo..pois pretendo fazer uma mescla de personagens nao reais(bonecos)e reais.Na verdade sera um trailler, e a unica personagem real seria interpretada por mim no papel de Madeline,que narraria o trailler.Minha outra duvida e sobre figurino e ,principalmente cenario...
    sera que funcionara?

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  2. O filme "A queda da casa do Usher" não é feito em stop motion não! Trata-se de um live-action com cenas de alguns objetos inanimados que se movem através do uso da técnica de animação em stop motion, como ocorre quando o túmulo da esposa de Roderick Usher se move sozinho na cripta onde se encontrava!^^

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