quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Depois das Nove

Um filme sutil. “Depois das Nove” mostra como algumas grandes mudanças instalam-se sorrateiras dentro de nós. Nos chegam pouco a pouco, tão imperceptíveis, que conseguem nos convencer de que tudo continua igual. E não mais que de repente, atinamos que ela estava ali há algum tempo, a influenciar-nos com sua mania de olhar diferente para o mundo.

Rafael mora em Copacabana com a avó. Cada um vive absorto em seu próprio espaço, onde os pormenores do cotidiano, como um simples escutar música, estabelecem as fronteiras: ela ouve uma cantora francesa num velho toca fitas; ele baixa arquivos mp3 na internet.


Os dois conversam pouco, os diálogos são rápidas trocas de impressões ou demonstrações de afeto, como a clássica preocupação da avó chamando o neto para comer. Embora sejam independentes um do outro, os personagens não apenas dividem o apartamento, mas convivem carinhosamente, numa harmonia silenciosa. Um dos grandes méritos do curta é brincar com esta dicotomia distância e aproximação, sem abandonar a delicadeza.

O prelúdio de que algo está para se transformar é anunciado pelo alarme de um relógio, que toca, impreterivelmente, todos os dias às nove horas. Rafael é o primeiro a reparar no barulho e a sentir sua falta quando ele é interrompido. Aliás, é Rafael que passará pela tal mudança sorrateira. Na tela, esta guinada do personagem manifesta-se com suavidade, sendo melhor traduzida pela insinuação do que acontece internamente com ele do que por uma ação enfática.

“Depois das Nove” integra o programa Novos Quadros, definido pelo Curta Cinema como aquele cujos filmes queremos por algum motivo acompanhar, seja pelo conjunto da obra, pelo potencial do diretor. E se há um curta-metragista que queremos acompanhar com vontade é Allan Ribeiro. Entre as suas realizações estão os premiados “Boca a Boca”, “Papo de Botequim”, “Senhoras” e “O Brilho dos Meus Olhos.” Para os fãs deste último curta, “Depois das Nove” tem a participação especial do ator Marcelo Dias.

A reapresentação será 7 de novembro, sexta-feira, às 14h na Caixa Cultural 2


(Talita Marçal)

4 comentários:

  1. Que critica linda que vc fez do meu filme, Talita. Obrigado! A distância e aproximação presentes no curta e que vc se refere com muito propriedade, acontece também entre a gente. Embora distante, vc teve uma leitura da história bem proxima do que foi pensado desde o início. Grande abraço, Allan Ribeiro

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  2. Estou muito triste, o cachorrinho não foi citado!!!! Achei que ele era o protagonista!
    Ótimo curta! amei!!!

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  3. Juninho! Nós te amamos!!!

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