Foco Japão 3
Depois do fim do mundo, a eternidade são hologramas exibidos para ninguém no deserto. A andróide Maria acorda e assiste a uma transmissão high tech projetada em pleno ar, ininterruptamente, por quase 28 anos. Uma consulta à sua memória digital confirma o que o horizonte de areia ao redor anunciava: acabou a vida na Terra, desde 2104.
Ao acionar a lembrança dos momentos anteriores à explosão atômica, Maria vê a menina de quem cuidava regando uma planta e explicando-lhe que dali brotaria a vida. A robô percebe que está no mesmo velho jardim e encontra o regador, os restos do tronco e uma torneira que pinga gotículas demoradas de água. Ela passa a dedicar os anos-séculos à tarefa de molhar aquele pedaço de terra.
O passar do tempo e a condição de abandono do último ser do planeta são acompanhados por planos abertos, belíssimos, que contrastam a pequeneza de Maria com a imensidão desértica. O complemento sonoro vem pelo ruído do vento, às vezes, ensurdecedor. Essa narrativa complacente, de quem espera com paciência que algo aconteça, é intercalada pelas recordações da ciborgue. Enquanto o passado feliz é colorido, a cor desbotada marca o presente escatológico, numa pintura da ausência. Outro recurso imagético usado - este bem menos encantador por ser conhecido das ficções científicas à lá “RoboCop” - é a visão subjetiva computadorizada para simular o modo como Maria apreende e processa a realidade que a cerca.
À primeira vista, uma super máquina representar a esperança de toda existência pode até evocar alguma euforia frente aos avanços da tecnologia. No entanto, a sensibilidade do diretor Secky Shang redireciona por completo essa impressão. Shang renova a crença no humano. Esse é o seu tema. O mesmo homem que com seus inventos promove a guerra nuclear é capaz de criar a andróide, seu artifício de recomeço.
De todas as suas criações, ela é a única feita à sua imagem e semelhança, a ponto de aprender a esboçar emoções, numa humanização crescente. Sobretudo, não se trata de qualquer andróide. Mas de Maria. Aquela cujo bendito fruto espera-se que seja a salvação. A inquietude de “M.O. – 105 Maria” não vem do efeito fácil. Em vez do pânico apelativo de apocalipses hollywoodianos, o que assombra é a lucidez que, embora otimista, é principalmente preocupada com a possibilidade de que a destruição, sim, se realize.
Depois do fim do mundo, a eternidade são hologramas exibidos para ninguém no deserto. A andróide Maria acorda e assiste a uma transmissão high tech projetada em pleno ar, ininterruptamente, por quase 28 anos. Uma consulta à sua memória digital confirma o que o horizonte de areia ao redor anunciava: acabou a vida na Terra, desde 2104.
Ao acionar a lembrança dos momentos anteriores à explosão atômica, Maria vê a menina de quem cuidava regando uma planta e explicando-lhe que dali brotaria a vida. A robô percebe que está no mesmo velho jardim e encontra o regador, os restos do tronco e uma torneira que pinga gotículas demoradas de água. Ela passa a dedicar os anos-séculos à tarefa de molhar aquele pedaço de terra.
O passar do tempo e a condição de abandono do último ser do planeta são acompanhados por planos abertos, belíssimos, que contrastam a pequeneza de Maria com a imensidão desértica. O complemento sonoro vem pelo ruído do vento, às vezes, ensurdecedor. Essa narrativa complacente, de quem espera com paciência que algo aconteça, é intercalada pelas recordações da ciborgue. Enquanto o passado feliz é colorido, a cor desbotada marca o presente escatológico, numa pintura da ausência. Outro recurso imagético usado - este bem menos encantador por ser conhecido das ficções científicas à lá “RoboCop” - é a visão subjetiva computadorizada para simular o modo como Maria apreende e processa a realidade que a cerca.
À primeira vista, uma super máquina representar a esperança de toda existência pode até evocar alguma euforia frente aos avanços da tecnologia. No entanto, a sensibilidade do diretor Secky Shang redireciona por completo essa impressão. Shang renova a crença no humano. Esse é o seu tema. O mesmo homem que com seus inventos promove a guerra nuclear é capaz de criar a andróide, seu artifício de recomeço.
De todas as suas criações, ela é a única feita à sua imagem e semelhança, a ponto de aprender a esboçar emoções, numa humanização crescente. Sobretudo, não se trata de qualquer andróide. Mas de Maria. Aquela cujo bendito fruto espera-se que seja a salvação. A inquietude de “M.O. – 105 Maria” não vem do efeito fácil. Em vez do pânico apelativo de apocalipses hollywoodianos, o que assombra é a lucidez que, embora otimista, é principalmente preocupada com a possibilidade de que a destruição, sim, se realize.
A reexibição será dia 7, sexta-feira, às 19h na Caixa Cultural 1.
(Talita Marçal)
(Talita Marçal)
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