sábado, 1 de novembro de 2008

Ni Tsutsumarete (Embracing) - Naomi Kawase


Ni Tsutsumarete, ou Embracing, é 'cinema do eu' e, assim como os já conhecidos '33' (Kiko Goifman, 2004) e 'Passaporte Húngaro' (Sandra Kogut, 2003), traz para a tela as sensações particulares de uma pessoa-personagem-cineasta que vive uma questão durante o processo de filmagem. Talvez o que seja mais admirável nesse tipo de filme (já em vias de consolidar um novo gênero de documentário) é a coragem em assumir os riscos que decorrem da exposição. Isso porque em tempos de Big Brother, o 'cinema do eu' precisa estar especialmente atento para que não caia nas armadilhas da mera espetacularização da vida privada.

Embracing apresenta Naomi com 23 anos. Ela foi adotada pelos avós, nunca morou com a mãe e não conhece o pai. O filme é uma tentativa de localizá-lo, mas, mais que isso, acaba por ser também uma reconstrução de trajetórias e um registro das ansiedades da diretora frente às suas descobertas. O filme, acima de tudo, trata do tempo em detrimento da ação. A passagem à imagem-tempo de que fala Deleuze em seus textos sobre o Cinema encontra aqui um representante japonês. O filme fala da ausência, do não, estabelecendo uma outra ética da imagem e construindo uma verdadeira estética da existência.

A câmera subjetiva, os pequenos insetos no jardim, as flores, os pregadores e as meias no varal ajudam a compor uma atmosfera extremamente confessional. A edição superposta brinca com os signos imagéticos, reforçando a idéia deleuziana (que se contrapõe ao entendimento semiótico) de que Cinema não é linguagem, mas IMAGEM. E as imagens de Kawase não são meros símbolos que, através do pensamento-referência, se ligam ao referente. Elas são, elas mesmas, coisas. A alternância entre fotos antigas e imagens atuais remontam o passado e mostra exatamente a forma pela qual ele é acessado: a partir do presente. O conceito de imagem-lembrança parece se aplicar, situando-se a diretora primeiro em um passado em geral para depois percorrer por camadas, lugares do passado.

As imagens da cozinha e todo o ambiente familiar, bem como a não exposição de Kawase, lembram-nos de que é cinema japonês. Aqui estão fortemente presentes as idéias de família e de inexpressabilidade. A longa sequência de registros de endereços vão agoniando ao demonstrarem a saga em que consiste a tarefa de localizar alguém após 23 anos. O tempo pode incomodar alguns, mas é justamente disso que trata o filme; a música final, hipnótica, conduz o ritmo da experiência sensorial que é assistí-lo. E então um telefonema...

Um Belíssimo filme. Daqueles que dão pena de ver por sabermos que nunca mais poderemos vê-los de novo pela primeira vez.

Diego Madih

Um comentário:

  1. diego,

    embracing também me emocionou
    muito legal você ter escrito sobre ele

    abraço

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