sábado, 8 de novembro de 2008

Ocidente - Leonardo Sette


Ocidente é polissêmico, porque extrair uma assertiva única é justamente limitar as possibilidades de interpretação que o filme oferece. Leonardo Sette é de tal perspicácia ao filmar dois casais em viagem de trem, que por momentos a dúvida se aquilo é encenado ou não aparece. O plano inicial engloba um movimento de corpos marcados pelo tempo. O abajur parece dividir não só o quadro mas o próprio casal idoso. A distância entre ambos perfaz os gestos e as expressões. A viagem segue, misturam-se imagens refletidas na janela, o caminho percorrido invade a figura do casal em uma fusão perfeita de imagens, que engana parecendo ser fruto da montagem. Um corte marcante com a tela preta marca uma segunda etapa do filme. Agora vemos a sombra de um casal jovem, abraçados, conversando em meio a risos e beijos apaixonados. O movimento dos corpos e o seu contraste com o primeiro casal é fantástico. Essa oposição entre o que compreende os dois planos gera problematização e as possíveis leituras do filme. O diretor afirma ter buscado uma possibilidade de perceber as relações cotidianas atualmente e sua relação com o tempo, mas ressalta que as variadas experiências do espectador fazem o filme mais rico. Ocidente é apenas um olhar aparentemente descompromissado, são sete minutos de observação em que ao menos um tema se evidencia de pronto, a ação irrefreável do tempo e a ressignificação das relações humanas.

2 comentários:

  1. Aeee! Enfim saiu!
    Muito boa sua percepção dos pormenores! :P

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  2. O filme se encontrava em uma sessão aonde o que mais se falava era a separação, a perda dolorosa de lembranças, enfim esse mundo de medo que nos rodeia. Também acredito que o Ocidente é um olhar descompromissado, um olhar do nosso cotidiano onde ninguém VÊ realmente ninguém ou nada. Passamos anos de nossas vidas desapercebidos por tudo e por todos, incluse nós mesmos. Mas, gostei da sua observação sobre o tema quando diz que nota-se: "a ação irrefreável do tempo e a ressignificação das relações humanas" no curta de Leonardo Sette. Pois, realmente me fez refletir sobre a convivência com outras pessoas e coisas e sobre o tempo (o que ainda nos resta para desfrutar dessas relações, não só com outros, mas também com nós mesmos). Fica a lição de aprendermos a ENXERGAR.

    Parabéns!!
    Você me fez gostar de ler críticas. Aliás, esse blog me faz amar lê-las.

    Camila Rial (Monitora CurtaCinema 2008 - ODEON)

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