sábado, 8 de novembro de 2008

Eu e crocodilos – Marcela Arantes

O moinho na beira de um rio

A luz barrenta e os sons fluidos ambientam eficazmente o cenário do rio e nos dão a percepção onírica. Sonho que, embora fictício por definição, se nos destina como a verdade da diretora, fundador de um sujeito e de um objeto que vêm até nós. Os jacarés transbordam dos pesadelos para o mundo como moinho, e é missão da protagonista fazer do medo, coragem, da insegurança, desbunde. Pois é de onde mora o perigo que nasce a salvação, basta uma atitude.
A ancoragem factual do sonho se repete nos diálogos. Pelo improviso, claro na reincidência de gírias (pô, meu!), o realismo nos aproxima de questões e favorece atuações. Atores de si mesmos, os personagens nos tocam por sua naturalidade e nos transportam para a adolescência. Brigas com irmãos, expectativas amorosas, amizade, fofocas e flertes pueris. O que nos havia escapado com o passar do tempo nos envolve pela tela e prova não apenas que recordar é viver, mas que cinema é viver.

Ciro Oiticica

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