segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O pós-carpe diem de “Sem Amanhã...”

Competição Internacional 2

"Sem amanhã..." é um filme sobre o dia seguinte de casais de uma noite só. Terminado o sexo, deixa de fazer sentido o estar junto. Pelo curta, percebemos que apesar de todo o fugaz da situação ocorre sim uma separação, feita de várias pequenas despedidas entre o vestir-se e o “a gente se vê por aí.”

Uma mulher está deitada na cama. O silêncio, a luz, os minúsculos gestos de indiferença fazem com que ela vá recobrando a sensação de estar sozinha. Longe de qualquer condescendência com o espectador, a câmera faz do sentimento de solidão sua imagem absoluta.

Sem desviar da personagem, não permite que ela saia de quadro ou o divida com alguém. Em cena, há exclusivamente a protagonista solitária. Tudo ao seu redor é acessório fora de foco. Essa opção formal é levada ao extremo na cena em que a moça e o rapaz estão conversando. Abandona-se o clássico plano e contra-plano. Em seu lugar, observamos o efeito que o teor do diálogo tem sobre ela. Eles são desconhecidos e constatar isso a impacta. Num relance, ela parece ter vontade de ficar um pouco mais, conhecê-lo melhor. Mas logo percebe a impossibilidade concreta desta idéia.

A filmagem é perturbadoramente intimista. Vemos e ouvimos como se fôssemos a mulher da tela. Os planos bem fechados esmiúçam as reações mais simples e somos capazes de acompanhar seus pensamentos e angústias, sem que se diga uma palavra. Acima da identificação, compreendemos a personagem.

Justamente por não haver qualquer intenção de apelo moral, "Sem amanhã..." questiona, com vigor reflexivo, um certo vazio existencial das relações modernas. Faz pensar sobre como lidamos com o pós-carpe diem.


(Talita Marçal)

2 comentários:

  1. gostei mto desse filme, mas essa sessão pra mim é totalmente 'love you more', ADOREI!

    adorei seu texto.

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  2. Não vi o filme, mas fiquei com vontade.
    Pós-carpe diem... tá na hora...

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